sexta-feira, 31 de julho de 2009

A estapafúrdia gramática da Microsoft


O corretor de texto do Word é uma ferramenta que tange a incompetência do conhecimento da Língua Portuguesa e o ridículo. Uma vasta gama dos "erros" por ele indicados e suas supostas correções são de total ignorância.

Vamos, então, aos "erros" apontados pelo programa. Para esta análise, tomei emprestado o "manual DSS", da prefeitura de São Paulo, disponível no site: www.prefeitura.sp.gov.br/manualdss .


1- MÓDULO MEDICINA E SEGURANÇA NO TRABALHO (toda a expressão está sublinhada). Para correção, ele dá as seguintes opções:

- Módula Medicina e Segurança no Trabalho;

- Módulos Medicina e Segurança no Trabalho;

Ou seja, no primeiro caso, o programa entende "Módulo" como um adjetivo, que, seguido de um substantivo feminino (Medicina), deve ser declinado como tal. Na segunda opção, a coisa é menos grave, mas ele entende que se tratam de dois módulos: um de medicina e outro de segurança, tendo que se colocar no plural.

Outro caso muito comum é quando o corretor simplesmente parece não saber o que está errado. Ele grifa uma determinada expressão, e, quando colocamos o cursor para que se verifiquem as opções, lê-se "(Sem Sugestões)". Um exemplo:

2- “É de responsabilidade da chefia, no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, a emissão da Comunicação de Acidente do Trabalho”. - Neste caso, a sentença "72 (setenta e duas) horas, a emissão" vem sublinhada, mas não conta com nenhuma ajuda do corretor para corrigi-la.

Mais um problema no entendimento morfológico das palavras vem em:

3- “Servidor obteve nexo causal e alta médica do afastamento, mas necessita novamente de licença por causa da mesma doença. Como agendar a perícia?”

Aqui, é grifada a parte "nexo causal e alta médica do afastamento" e, como correção, ele nos apresenta o inimaginável:

"Nexo causal e alto médica do afastamento".

Nesse caso, o coitado ficou desnorteado: provavelmente, não consta a palavra "alta" em seu dicionário, e o mais óbvio a se fazer foi associá-la a "causal", provavelmente por causa da conjunção "e" na sentença.

Concordância também não é o forte do programa. Vejamos:

4- Em "Os pedidos devem sempre ser acrescidos...", é indicado que se deveria ter escrito "Os pedidos devem sempre ser acrescido...", ou seja, parece que o programa "pensou" ser esta uma sentença como "Eles haviam cantado"; em que há um particípio precedido de um verbo auxiliar, o que não é o caso ("acrescidos", nesse caso, é puro adjetivo, e deve concordar mesmo com "pedidos").

O engano também ocorre, quando há a tentativa de reconhecer a função morfológica da palavra, como em:

5- "(o sevidor)... Anexa relatório médico atual, cópia simples do RG, CPF e último holerite". A correção indicada pelo programa é "Anexo relatório...", o que mostra mais um erro na idenficação da função, pois trata-se do verbo conjugado na 3ª pessoa do singular, e não um adjetivo, como diz ser o programa.

Esses foram apenas alguns casos de uma infinidade que podemos elencar. Um outro bastante clássico é quando o corretor confunde uma Oração Adjetiva com o predicado, como no caso:

6- "João, que gosta de caramelo, comeu goiabas". Nesse caso, aparece a máxima: "não se separa, com vírgula, o sujeito do predicado". Não programaram o corretor para identificar apostos ou orações adjetivas.

Em suma, parece que o pessoal da Microsoft é muito bom nas linguagens de computação, mas peca demais na Portuguesa. O que mais assusta é a quantidade de pessoas que vejo, após a digitação de um memorando ou documento qualquer, verificar a gramática com esse falho corretor. Ou seja, tornam seus textos "mais errados" após a correção.

2 comentários:

Ivo S. G. Reis disse...

Corretores ortográficos desenvolvidos no exterior? Esqueça! Nenhum deles funciona. O melhor a fazer é desabilitar todos. Dá menos trabalho do que "ficar corrigindo o corretor".

Mas se você é daqueles que acha imprencindível usá-los (pelo menos servem para detectar letras dobradas ou faltando, sem sempre), tire-os da opção "automático" e ligue só quando necessitar fazer a revisão por inteiro do texto. Pelo menos assim você não precisará ficar parando a todo momento para "corrigir o corretor". Eu simplesmente não uso, porque atrapalha mais do que ajuda.

Mr. Spock disse...

Pois é Darini, a incompetência (ainda tem acento?) é generalizada, não só na Microsoft como nos embolorados gabinetes dos acadêmicos da língua portuguesa.

Na Microsoft sabemos que, pelo menos, não foi nenhum americano, indiano ou chinês que fez a tradução do Word e do seu dicionário. Com certeza também não foi o Houaiss ou o Aurélio Buarque de Holanda (até por estar falecido desde 89), deve ter sido um brasileiro mesmo que só se deu ao trabalho de pegar as palavras em inglês e vertê-las (não traduzir) para o portugues (com ou sem acento?). Por isso a "alta" médica ficou sem correlato por não haver tal expressão figura em ingles (acento?), apesar de não justificar a ausência (??) do feminino de "alto".

Já entre os burocratas da língua o caso é mais grave. Encarregados, a priori, da sobrevivência do idioma, se esmeram em introduzir alterações gramaticais e ortográficas constantes, transformando uma língua já de difícil aprendizado em uma balbúrdia quase anual.

Não me considero um profundo conhecedor de nosso idioma, pois nunca decorei todas aquelas regras, fórmulas e nomenclaturas (tipo "oração subordinada substantiva adjetiva..."), mas aprendi o básico lendo muito Machado de Assis, Euclides da Cunha, José de Alencar, Érico Veríssimo e muitos outros que fixaram em minha mente o bom portugues escrito. Hoje, com certeza, seriam todos "foras-da-lei", como se um idioma fosse regido por leis...

Na verdade, não fossem os 200 milhões de brasileiros que (teoricamente) falam portugues, provavelmente já teríamos mais uma língua perdida. Portugal e suas ex-colônias não lhe dariam sobrevida. Aliás, com a disseminação da Internet entre crianças e outros não-alfabetizados, o que encontramos pela web (em todas as línguas) são caracteres românicos, misturados aleatoriamente, formando pseudo-palavras fantasiadas de inglês, português, francês...

Portanto Darini, nem podemos crucificar a Microsoft e seu editor de textos por tentarem "corrigir" o que está todo errado. Mesmo esse meu texto aqui deve ter inúmeras incorreções pela nova "Lei Ortográfica", mas...e daí??? Voces entederam o que escrevi? Feriu os seus olhos alguma incorreção?

A nós, que procuramos cultivar o idioma, resta nos adaptarmos. Já vi muito processo jurídico com erros absurdos até em despachos de juízes, isso sem contar que elegemos um presidente semi-analfabeto que detesta livros.

Por último, seja bem vindo ao SILI!!

Temos certeza que seus artigos serão uma contribuição concreta na nossa busca por vida inteligente na Internet. Muito obrigado.