quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Teoria de Gaia x Aquecimento Global - Quem Está com a Razão? (Republicação)

O texto abaixo foi publicado originalmente no site do autor, no Recanto das Letras e em seu blog Debata, Desvende e Divulgue!,este último, blog parceiro do "Projeto S.I.L.I".

Resolvemos republicá-lo também aqui, em reforço ao excelente artigo sobre tema correlato ("A Farsa dos CFCs e do Aquecimento Global"), publicado pelo administrador do blog Projeto S.I.L.I., no nosso blog. Esperamos que o nosso administrador, Mr. Spock, publique o mencionado artigo aqui já que a autoridade do eminente professor e pesquisador que o escreveu, certamente jogará muita luz sobre o assunto a que nos referimos no artigo abaixo:
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Teoria de Gaia x Aquecimento Global - Quem Está com a Razão?

Ambas são teorias ainda não totalmente comprovadas e se referem ao planeta e ao aquecimento global. Uma, menos alarmista, apoiada no cientificismo e na experimentação; a outra, pregando o catastrofismo, baseada em estatísticas, fotos e observações.

Antes de adentrar no assunto, que pelas características deste espaço, não pode ser aprofundado, cabe algumas ressalvas: Tanto a Teoria de Gaia como a Teoria do Aquecimento Global mereceriam longos ensaios feitos de formas isoladas pelas comunidades científicas mundiais e, depois, um longo estudo comparado, concluindo o que de verdadeiro existe em ambas as teorias, e recomendando os procedimentos corretos a serem adotados pela ciência e pela humanidade.

Infelizmente, eu, mero observador, cidadão comum, blogueiro brasileiro, sem nenhuma autoridade para emitir opiniões sobre o assunto, embora cuidadoso e imparcial pesquisador, não encontrei ainda, em minhas pesquisas (livros, jornais, revistas, periódicos de ciência e biologia, bibliotecas, internet, etc), nenhum estudo que preenchesse convenientemente esta lacuna. Talvez até já exista, mas não encontrei ou não soube como procurar. Mas, se com todo esse esforço não encontrei, acredito que muitos de vocês também não, estando na minha mesma situação: inquietos e querendo saber em que e/ou em quem acreditar.

Por isso, e só por isso, vou tentar resumir o que sei e colocar a questão para debate e reflexão. Fique claro, porém, que o assunto é vastíssimo e terá que ser abordado inúmeras outras vezes, sob vários enfoques diferentes. Não se espere encontrar, aqui, as explicações buscadas. Mas apenas as bases para que você, leitor, continue a jornada, pesquisando e tentando tirar suas próprias conclusões, se é que já é possível chegar a isso. A comunidade científica ainda não chegou a um consenso. Será que nós conseguiremos chegar a um, mesmo que provisório, e apenas para aplacar a nossa curiosidade temporariamente?

Nos últimos anos, todos, começando pelos estudantes da 5ª série do ensino fundamental, têm ouvido falar do aquecimento global e, alguns, até tentando arriscar-se a defini-lo e explicá-lo, tal é a intensidade da divulgação na mídia. Nas escolas (não como ensino didático oficial), os professores já começam a comentar e emitir conceitos que, na verdade, são apenas os seus pontos-de-vistas pessoais, mas que, ainda assim, influenciam os alunos. Entre os adultos, fala-se disso em todos os lugares: em família, conversas em rodas de amigos, em salões de beleza, e até nos bares e botequins da vida. O assunto está tomando ares de verdade absoluta e todo mundo tem o seu palpitezinho a dar, ninguém alegando ignorância global, seja a pessoa culta ou inculta. E é isso o que me preocupa, porque eu, que ainda não consegui formar minha convicção sobre o assunto, estou começando a me sentir meio complexado, como se tivesse um raciocínio de efeito retardado, porque demoro muito a assimilar uma "verdade", por todos conhecida e pacificamente aceita.

Mas aí vem a minha reflexão e o consolo, ancorados numa frase e num dito popular. A frase: "Toda a maioria é burra" (Nelson Rodrigues - escritor, jornalista, dramaturgo-teatrólogo); o dito popular: "Uma mentira, dita repetidas vezes, por muitos, passa a soar como verdade" (autor desconhecido).

Quanto à frase de Nelson Rodrigues, não a aceito integralmente, por achá-la por demais genérica e radical, não considerando as exceções. Mas se ele dissesse: "Quase toda a maioria é burra", não teria dúvidas em concordar. O dito popular sobre a mentira, este é mais fácil de aceitar e concordar, sem reparos.

Com efeito, se a maioria sempre tivesse razão, todos os países de regime presidencialista, teriam os melhores presidentes para o povo, pois é ele, pela maioria, quem os elege. E na maioria das vezes, erra. Para citar só um exemplo, analise-se o caso de George W. Bush, Presidente dos Estados Unidos, cujo mandato, felizmente, terminará em 2008. Dá para dizer que o povo acertou na escolha? E o pior é que essa maioria burra elegeu o Bush duas vezes. Vale dizer: cometaram o mesmo erro duas vezes. Hoje, nem os próprios republicanos se atrevem a dizer que Bush fez um bom governo.

Isto posto, vamos ao que interessa:

Em síntese, a teoria do aquecimento global, apregoada e defendida por Al Gore, ex-Vice-Presidente dos Estados Unidos na Administração Bill Clinton, Prêmio Nobel da Paz em 2007, pelo desenvolvimento e divulgação dessa teoria, enfatiza o efeito estufa, provocado pelo excessiva quantidade de dióxido de carbono (CO2) expelida para a atmosfera, destruindo a camada de ozônio, permitindo a penetração dos raios UV e ondas de calor cada vez maiores e cumulativas que, retidas, causam o aquecimento global, com conseqüências catastróficas para a humanidade (alterações climáticas, derretimento das geleiras polares, inundações pela subida do nível dos oceanos, etc).

"Com o aquecimento global, as áreas tropicais do planeta, certamente, serão as mais afetadas. Nestas áreas predomina a agricultura de subsistência que supre as necessidades alimentares de milhões de famílias. Entretanto, como explica Myers (LEGGETT, 1992, p.362), “o maior agente do desmatamento das florestas tropicais é o lavrador itinerante”, que, expulso de suas terras agrícolas tradicionais, dirige-se para as áreas florestadas, ainda não ocupadas, gerando ações impactantes ao meio ambiente (Climatologia e Estudos da Paisagem - Rio Claro - Vol. 2 n.1 - janeiro/ junho/2007, p. 14)."

Como se viu, não só os ambientalistas, biólogos e cientistas, mas todos, ou seja, a maioria, "já conhece ou pensa conhecer as causas e efeitos do aquecimento global" (olha a "maioria" aí de novo!).

Agora, vejamos o que é e o que diz a "Teoria de Gaia": Primeiramente, vamos ao nome. Por que "Gaia"? Este nome foi escolhido em homenagem à deusa grega, "Gaia", que siginificava Mãe Terra. Então, "Gaia", significa "Terra", o planeta em que vivemos. Esta teoria foi desenvolvida pelo biólogo inglês James Lovelock, na década 1960/1970, trabalhando para a NASA, em pesquisas sobre a existência de vida em Marte e Vênus (veja o endereço da sua home page na barra lateral do meu blog, o Debata, Desvende e Divulgue! ).

Não constatando vida naqueles planetas, redirecionou suas pesquisas, comparando-as com o planeta Terra, concluindo que alguns componentes de gases aqui existentes, mas não existentes em Marte e Vênus ou existentes em quantidades bastante diferentes eram o que permitiam a vida na Terra e, mais que isso, tornavam-na um "organismo vivo". Inseriu a idéia de que cada componente da Terra funciona de forma interligada. As plantas e animais fazem parte do mesmo conjunto, de uma mesma unidade funcional. Por sua vez, este conjunto é parte integrante de um conjunto maior - o próprio planeta Terra - Gaia, um imenso organismo vivo e auto-regulador (James Lovelock - The Gaia Theory -1970).

Essa é a sínteses da Teoria de Gaia, apresentada em 1972 à comunidade científica - A Terra é um ser vivo que se auto-regula. Como decorrência, afirma que as variações climáticas sempre existiram, com períodos de picos de calor (aquecimento global) e de frio(resfriamento global) como resultante da atividade solar e da órbita e rotação do Planeta. Afirma também que isso ocorre dentro de uma faixa máxima e mínima em que esse organismo, Gaia, sobrevive, se auto-regulando, como forma de defesa. Concorda que, no momento, estamos num ciclo de aquecimento global, mas coloca em xeque que isso tenha como conseqüência principal a excessiva emissão de CO2na atmosfera, porque Gaia seria capaz de neutralizar isso. Comprova estatística e historicamente que esses ciclos já existiram antes e que Gaia se auto-regulou, como forma de sobrevivência. O que é colocado em xeque e de fato preocupa é o "período de duração desses ciclos, que tem diminuído consideravelmente, ao longo dos 3,8 bilhões de anos de existência do planeta". E aponta outras causas, todas decorrentes da interferência da ação do homem sobre o meio ambiente (atividades agrícolas, desmatamentos, queimadas, desertificação provocada, poluição de oceanos, etc)

Infere-se, pois, da sua teoria, que a Terra ou Gaia, como prefere chamar, ainda está em estado de homeóstase(*), tendo reservas de sobrevivência, autodefesa e adaptação, produzindo suas alças de retroalimentação. O que é necessário definir é tão-somente até quando ela conseguirá manter este estado.

Aí está posto o que consegui depreender, não sei se certa ou erradamente. Vale ressaltar, porém, que a comunidade científica está dividida em relação a aceitar que a Terra seja um organismo vivo, porque "não teria a capacidade de se reproduzir", qualidade inerente aos seres vivos. Também há relutância quanto a ela estar em estado de homeóstase. Lovelock rebate exemplificando com a reprodução assexuada, outras formas de auto-reprodução e até com "formas de reprodução desconhecidas" e a não absoluta certeza do conhecimento de todas as formas de funcionamento dessa característica dos seres vivos. Está formada a confusão. Mesmo assim, já se propôs que essa teoria passasse a ser ensinada didaticamente nas universidades, como parte da Biologia, mas aqui também houve resistências. A despeito disso, algumas escolas americanas incluíram a teoria como parte dos estudos na cadeira de Biologia.

Contra o aquecimento global, contrapõe-se a falta de cientificismo e possíveis interesses políticos e econômicos das nações mais desenvolvidas, para impedir que países dominados e os em desenvolvimento alcancem o mesmo estágio que os desenvolvidos. Coloca-se sob suspeição a credibilidade dos relatórios do IPCC, possivelmente tendenciosos, publicando uma "pseudo verdade fabricada sob encomenda". Mas isso não tem impedido que a teoria do aquecimento global ganhe força, já que pouquíssimas pessoas conhecem esses pormenores que, aliás, nem são divulgados.

O certo é que, em relação à Teoria do Aquecimento Global, a Teoria de Gaia, embora mais embasada científicamente e menos catastrófica, está em desvantagem no quesito aceitação. Mas não se pode esquecer que ambas ainda são teorias e, como tal, precisam ser comprovadas.

E aí, será que neste caso, a "maioria", apoiando o aquecimento global, está com a razão? Ou será a minoria, que defende a Teoria de Gaia? Ou ninguém ainda sabe a verdade?

Está lançado o debate!

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(*) - Homeóstase (definição dicionarizada): (do grego homeostasis). S.f. 1 Fisiol. Tendência à estabilidade do meio interno do organismo. 2. Cibern. Propriedade auto-reguladora de um sistema ou organismo que permite manter o estado de equilíbrio de suas variáveis essenciais ou de seu meio-ambiente (V. retroalimentação).

Fontes: Filme : Uma Verdade Inconveniente (2006); Site: James Lovelock Home Page; coletânea de assuntos em sites diversos (2007 - internet)

Bibliografia:

Uma Verdade Inconveniente - Al Gore - Manole, 2006, 328 pág.;The Revenge of Gaia - James Lovelock, 176 pag. - Basic Books, 2006 (July,3); The Ages of Gaia - James Lovelock, 305 pag - W.W.-Norton, New York, 1988; A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. CAPRA, F - S. Paulo, Cultrix, 2000; Almanaque Abril 2000 - Mundo - S. Paulo, Abril Cultural, 2000; Como o aquecimento global vai afetar o Brasil - ARINI, J. - Época, Rio de Janeiro, Ciência & Tecnologia. Meio Ambiente, 02/04/2007.


Ivo S G Reis



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Publicado em 27/12/2007 às 09h57
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Um comentário:

Mr. Spock disse...

Ivo, a Teoria de Gaia tem o mérito de ser factual, ou seja, se apóia em fatos facilmente observáveis. Peca, porém, ao ser extremamente antropocentrista, ou seja, teoriza em cima de uma visão do Homem ao querer comparar um planeta a "um ser vivo".

Ora, são os planetas que "criam" condições para a vida, não ao contrário! Foram as características específicas de formação da Terra que deram origem às formas de vida conhecidas (e desconhecidas ainda).

Foi o acúmulo de CO2 em eras atrás, criado pelas erupções vulcânicas, que criou condições ótimas para o desenvolvimento dos vegetais superiores, provendo-lhes o alimento indispensável para a realização da fotossíntese. E quanto mais CO2, maior o crescimento vegetal.

É o "efeito estufa", considerado como a "besta do Armagedon", que criou condições climáticas ótimas para o desenvolvimento de espécies animais superiores homeotérmicas (aves, mamíferos), proporcionando-lhes uma temperatura ideal para a evolução.

E mais uma infindável cadeia de eventos cujos elos nos levou a ter o planeta que temos hoje, entrelaçados paulatinamente durante bilhões de anos (e não em poucos anos ou décadas, nem séculos).

Querer comparar um corpo celeste a um ser humano é o cúmulo do egocentrismo! Ao que compararíamos as estrelas então? E os quasares, pulsares, buracos negros...? Seriam "seres vivos" também?

A Teoria de Gaia pode ser muito bonitinha mas é muito ordinária. Mesmo que algum dia a humanidade ocupe cada metro quadrado de terra neste planeta, não conseguirá "matar" a Terra. O máximo que conseguirá é chegar à extinção da própria espécie.

Mas, para uma espécie animal que criou e matou deuses é fácil achar que pode salvar ou matar um planeta. Isto satisfaz egos patológicos e ignorantes. Só não satisfaz a quem está interessado em evoluir, não involuir.