quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Vida de Gado

Havia prometido uma série de artigos sobre a Gripe Suína, a fim de esclarecer sobre as diversas incongruências e questionar as falhas informações divulgadas na mídia e pelas autoridades sanitárias brasileiras. Estava juntando artigos científicos e pesquisando conceitos básicos para dar aos leitores uma idéia mais geral e verdadeira sobre essa ameaça à vida de cada um.


Porém, um fato me fez pensar melhor e decidir, inclusive, alterar (ou voltar às origens) a linha editorial do Projeto S.I.L.I.


Por esses dias, toda minha família de 5 pessoas foi acometida por síndrome gripal, aí incluídos um bebê de 2 meses e uma criança de 3 anos. O meu quadro vem sendo o mais grave. Preocupado em estar infectado pelo H1N1 cepa suína e de transmití-lo à minha família, procurei uma forma de conseguir o antiviral Tamiflu® (Fosfato de Oseltamivir).

Apesar de conviver e trabalhar há quase 30 anos em estabelecimentos e com profissionais de saúde, só consegui saber que a distribuição do medicamento era exclusividade do governo estadual e estava centralizada na cidade do Rio de Janeiro, e que o mesmo só era liberado após longa e estafante via crucis através da burocracia estatal. Em minha cidade, no interior do RJ, a única possibilidade seria ser internado em sucateado Hospital "filantrópico" e aguardar a vinda do medicamento da capital.

Como a eficácia do Oseltamivir é maior nos 2 primeiros dias da infecção, já dava para perceber que, quando (e se) chegasse a conseguí-lo, ou estaria morto ou curado!


Vi-me então obrigado a tentar a aquisição do produto fora do Brasil, via Internet, uma vez que, com o monopólio estatal, também não há comercialização do Tamiflu® em Farmácias. Até encontrei sites vendendo o medicamento, porém ambos (site e Tamiflu) de procedência duvidosa.

Assim, caros leitores, estou eu escrevendo esse artigo com uma "síndrome respiratória aguda", definição dada pelas autoridades brasileiras para a Gripe Suína (seja lá o que isso for...) e sem qualquer opção de tratamento, impedido que fui por um governo stalinista de ter acesso a um medicamento.

Caso esse não venha a ser o último artigo que escrevo no blog, irei retornar a linha editorial do Projeto às suas origens, ou seja, publicar apenas informações científicas variadas sobre temas que afetem, direta ou indiretamente, a vida humana. Nos últimos tempos havia assumido uma linha "didática", tentando discutir temas mais polêmicos de uma forma educativa. Percebi, porém, com esse episódio da pandemia, que poucos estão interessados em saber sobre sua própria sobrevivência e questionar posições oficiais, aí incluídos os profissionais de saúde no Brasil.

Portanto, o Projeto será redirecionado para a publicação de artigos científicos, com a tradução do redator e link para o artigo original, sem maiores pretensões "professorais". Que cada um tire suas próprias conclusões sobre o que ler. Os colaboradores poderão seguir sua própria linha editorial.


Apenas para não faltar com a palavra empenhada, algumas observações e conclusões a que cheguei com a pesquisa que vinha fazendo sobre a Gripe Suína:


1) A comunidade científica vem disperdiçando recursos com investigações pouco úteis sobre a virose. Ainda não se sabe o mecanismo de letalidade da doença ou se esse se assemelha ao da Gripe Espanhola (vide 2 artigos abaixo);


2) A incidência da gripe e sua mortalidade parece serem reguladas pela mídia. Antes presença diária (e horária) no noticiários, a gripe já não aparece nas notícias tão frequentemente nas últimas semanas. Com isso, os governos já anunciam uma "queda" na incidência da doença, apesar do Brasil ser líder mundial em número de mortes;


3) Apenas 3 instituições no Brasil estão capacitadas para realizarem o exame rt-PCR de identificação do H1N1: Adolfo Lutz (SP), FIOCruz (RJ) e Evandro Chagas (PA). Relatório enviado à OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) pela FIOCruz dá conta de que, até julho, menos de 20 desses testes haviam sido feitos e menos de 10 casos de H1N1 haviam sido confirmados;


4) Pelo visto acima, as estatísticas de mortes por Gripe Suína no Brasil não têm qualquer fidedignidade. Muitos outros devem ter morrido sem diagnóstico e muitos contabilizados como vítimas foram "chutados", sem a realização do teste;


5) A corrida pelo "ácool em gel" só deixou os fabricantes felizes. A forma gel para o álcool foi apenas uma forma de minimizar incêndios domésticos por derramamento, não possuindo qualquer benefício sobre a forma líquida. Além disso, apesar de vírus de Influenza A serem envelopados com uma camada bilipídica, ainda não existem estudos (ou não foram publicados) sobre a eficácia da ação viruscida do álcool etílico;


6) Filtros de ar de aviões não retêm vírus, portanto, reciclando sempre o mesmo ar sob ventilação forçada, aeronaves em voo podem disseminar qualquer vírus respiratório entre todos os ocupantes;


7) Segundo algumas "teorias da conspiração", a atual cepa do H1N1 foi fabricada por corporação americana com a cumplicidade do CDC. Para comprovarem o alegado, alguns mostram a subida vertiginosa das ações dessa companhia após maio de 2009, revertendo uma queda constante. Como as provas são apenas testemunhais, não entraremos em detalhes. Vídeos sobre a "conspiração" podem ser achados no YouTube. É bem provável que voce já tenha recebido um por email (eu já recebi vários);


8) Resumindo a situação: sabe-se muito pouco, divulga-se muito pouco, age-se muito mal! É esse o quadro da atual pandemia que vem afetando muito mais o Brasil que o resto do mundo (por que será, hein??!).


Finalizando, ao me deparar com toda essa balbúrdia epidemiológica, me lembrei de antiga obra prima do poeta nordestino Zé Ramalho, intitulada "Vida de Gado". Composta em uma outra época, nunca foi tão aplicável quanto nos dias de hoje:



Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
A margem do que possa aparecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado,
êPovo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado,
êPovo feliz

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado,
êPovo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado,
êPovo feliz

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e
Povo feliz